quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Violência a mulheres.

Me emocionei ao ver a luz do sol após tanto tempo, não literalmente, mas enxergar finalmente a luz da liberdade que há anos eu não obtinha. Eu podia observar as ruas, e ver cada detalhe delas, eu podia sentir o vento no meu rosto, eu conseguia novamente me sentir viva...

Pelo retrovisor eu visualizava mais uma vez aquele rosto que eu não reconhecia, tão fino e maltratado. Eu ainda não tinha noção como as coisas tinham chegado a aquele ponto, mas eu tinha uma pequena hipótese: fui cega e deixei passar uma agressão aqui, outra ali, e elas foram evoluindo com tanta facilidade, que por fim acabaram se tornando uma grande surra. Surra esta que ainda estava marcada em meu rosto, com roxos por toda as extremidades das bochechas, a boca inchada, e a sobrancelha esquerda sendo acompanhada por um longo corte por toda sua extensão.

Aquela imagem era triste de se ver, eu mesma sentia pena de mim. Mas eu confesso que mereci, deixei o amor tomar conta de mim e não enxerguei o óbvio - o descontentamento que sentia em meu casamento. Me pergunto porque eu não quis enxergar a verdade. Era tão nítido as coisas, mas eu não queria admitir que meu marido não me amava, que ele só se aproveitava de meu corpo e me fazia infeliz. Tanta ingenuidade que acabou se tornando um grande desastre.

Um arrepio atravessou minha pele enquanto me lembrava dos acontecimentos, me encolhi na poltrona do carro, buscando um aconchego que eu não tinha, e em um ato instantâneo levei a mão sobre minha barriga pela milésima vez e entristeci ao ver o resultado. Meu filho não estava mais lá.

Minha amiga, Luana, que dirigia e me levava para a casa de meus pais, notou a minha frustração e tentou puxar assunto, em uma tentativa falha de me alegrar e me fazer esquecer o que aconteceu, Eu podia ter minha liberdade agora, mas comprometi muitas coisas para tê-la. Perdi meu filho, minha dignidade e com certeza, estaria marcada com aquilo para sempre.

- Esqueça aquele cara... - Lu encarou-me de forma sincera por alguns segundos não querendo tirar o olho da estrada. - Tudo o que aconteceu é uma verdade tragédia, mas entenda que estaremos ao seu lado. Todos nós, eu, seu pai, sua mãe, seus amigos...

- Eu sei que estarão, mas é difícil. Muito difícil... - Deixei que uma lágrima escapasse de meus olhos e no mesmo instante senti as mãos de minha amiga sobre as minhas me apoiando.

Meu marido, aquele que me entreguei de corpo e alma, me feriu tanto exteriormente, quanto interiormente. Ele não tinha respeito para comigo, e me tratava como uma qualquer. Eu fui, durante 4 anos, submissa a ele, obedecendo-lhe. Até que me cansei de ser ingenua e tentei revidar as suas ignorâncias, mas ele revidou de forma ainda mais forte e me espancou de tal forma, que eu, grávida de 4 meses, perdi minha criança. A minha única felicidade havia morrido.

O denunciei e tive provas suficientes das suas exageradas agressões, e eu pude sentir o gostinho de vê-lo ser preso. Porém, essa pequena vingança não ia repor as coisas preciosas que perdi, não ia fazer eu apagar todas as minhas lembranças dolorosas. Quantas vezes ouvi meus amigos e parentes me dizendo para prestar atenção no que estava acontecendo. "Olhe, o que este homem está fazendo com você", eles diziam, "você é jovem, tem muitos outros homens bonitos pra te agradar, por que quer tanto insistir neste?" É, eu não sabia responder essa pergunta, fui tola e imatura de mais.

E agora só me restava tentar reconstruir minha vida, eu não dexistiria dela, mesmo que todas as circunstâncias me dissessem para fazer isso. Eu não acabaria com minha vida por causa daquela pessoa pessoa imunda, eu iria me reerguer e provar pra mim mesma que nem mil homens daquele são capazes de destruir a minha fortaleza. Ela pode ser abalada, mas nunca destruída. Talvez, não seja tão fácil assim seguir em frente, mas eu quero e vou fazer isso, por meu filho e por mim.

Eu, Tereza, tenho 25 anos e fui vítima de violências, evitei a denúncia e acabei perdendo anos de minha vida construindo uma felicidade falsa. Você mulher, que este texto, caso passe por alguma situação parecida, não hesite, seja forte e denuncie a violência contra a mulher.

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